4 de janeiro de 2012

Uma balada de primavera – Primeira parte - A sinfonia dos campos de pinheiros


Um aperto de agonia. Uma pequena dor nas profundezas do meu peito. Uma grande dor dentro do meu coração. Parece pequena, pois a mente esforça-se em seu extremo para que assim pareça.

Coração agoniado, nervoso, tenso, temeroso. Assim pulsa o órgão que mantém viva a esperança de viver.

Uma explicação para a origem desses sentimentos: este coração que aqui vos fala desacostumou-se a bater sozinho.

Não. Impossibilitou-se de bater sozinho.

Seu ritmo não mais é mantido através de sua própria vontade ou essência. Hoje ele é um coração dividido. Melhor. Um coração compartilhado.

Por um ano e sete dias, seu ritmo manteve-se compassado, ritmado, deslizando por linhas suaves, lentas, agudas, tensas, graves, rápidas. Sempre acompanhado de outro bater de mesmo tom, apenas em uma oitava diferente. Juntos, compuseram uma orquestra.
Uma orquestra que começou a tocar sua música em meio a um pequeno campo de pinheiros.

Uma orquestra de apenas dois instrumentos?

Não. Os corações foram os maestros. Eles conduziram a sinfonia. Os instrumentos foram diversos. Os nomes? Sentimentos.

Um ano e sete dias tocados por intensos sentimentos. Alguns de corda, outros de sopro, outros ainda de percussão e por aí vai. Em cada classe, ainda outra variedade de variações. Contrabaixos e violinos, clarinetes e trombones, bumbos e pratos.

E então, no oitavo dia, tudo isso era uma orquestra desfeita. Nenhum instrumento tocava mais. O som era apenas um:

O Silêncio.

Igualmente à intensidade com que era ouvido, ele era sentido.

Uma falta de alguma coisa. Uma falta de tudo.

Os corações, maestros tão dedicados, estavam destroçados. Metaforicamente falando, era como se, a um, faltasse um átrio, e no outro, dois ventrículos tivessem sido destruídos. Àquele primeiro, o sangue não jorrava mais pelas artérias, mas derramava-se por todo o corpo.

De toda aquela sinfonia, sobraram-se apenas os ecos.

Lembranças.

O som dos violinos caminhava lentamente pela mente de ambos, pois os corações não conseguiam nem mesmo mais lembrar, mergulhados na dor das partes que perderam e, ainda assim, não podiam simplesmente deitar e deixar de bater.

Um instrumento, por sua vez, não podia mais ser ouvido. Nem de uma forma real e nem mesmo nos ecos retumbantes das notas que teimavam em não se dispersar dentro do anfiteatro um dia lotado, agora, abandonado, como se tivesse sido deixado às pressas por causa de uma catástrofe iminente. Catástrofe que talvez chegasse a acontecer. No exato instante que todas as notas cessassem, toda a estrutura construída a partir delas finalmente ruiria, enfim enterrando para sempre aquele instrumento imóvel, abandonado com suas dezenas de cordas à mostra, um banco para dois à sua frente, como se ainda esperasse a volta dos músicos, a volta de seu maestro e maestrina.

Nos ecos remanescentes das batidas ritmadas, o piano não podia ser ouvido.

As vibrações dos outros instrumentos chegavam até ali, filhas dos pensamentos sofridos que ainda se mantinham atrelados àquela casa de espetáculo onde, antes, uma das mais belas e fantásticas sinfonias da Terra tinha sido criada aos poucos, para depois adquirir sua própria vida, regendo-se por si mesma.

Mas os pensamentos não podiam fazer soarem novamente as cordas do piano, não podiam fazer as teclas e pedais serem acionados, não podiam produzir som algum daquele instrumento. Não podiam, pois aquele piano havia sido feito para ser tocado a quatro mãos e apenas assim.

Dessa forma, o piano soou em seu canto, esquecido, silencioso, por um tempo que pareceu aterradoramente interminável.

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